Frutificai #10 - Faça alguma coisa: ou contra a ilusão da mentalidade quando-eu-finalmente
Sobre como o medo de errar já pode ser o próprio erro.
🍃VOCÊ VAI GOSTAR DE…
Quero recomendar muito que você veja esse corte do podcast do Daniel Gardner. É para ficar a semana toda pensando nele. 🎞️
Falando nisso, não posso deixar de recomendar o primeiro episódio de Do the Work, uma entrevista com Tiago Santos, professor do Seminário Martin Bucer, pastor da Igreja Batista da Graça e diretor executivo do Ministério Fiel. Há uma geração inteira que precisa do tipo de sabedoria de ética teológica do trabalho que encontramos aqui. 🎙️
Muita gente pensa que escrever bem é uma questão de domínio de gramática. Não é. Esse texto (em inglês) do Dr. Sheffler é um bom ponto de partida para essa discussão. 🔎
🌰 FRASE DA SEMANA
O tempo é o grande nivelador. É um recurso alocado de modo absolutamente igualitário. Cada pessoa viva possui o mesmo número de horas para usar a cada dia. Pessoas ocupadas não possuem um bônus de horas acrescentadas ao dia. O relógio não tem favoritos.
R. C. Sproul, Time well spent
Eu já passei muito tempo assistindo vídeos sobre produtividade quando deveria estar trabalhando. Também já me dediquei muito a planejamentos de projetos que já deveriam estar em execução.
Quando considero o tempo que perdi, percebo que a mentalidade “quando-eu-finalmente” é como aquela cenoura que um personagem de desenho animado usa para fazer o burro andar.
A mentalidade quando-eu-finalmente é a falsa crença de que quando você finalmente tiver algo, as coisas melhoram: quando-eu-finalmente encerrar esse curso, entregar esse projeto, ter outro computador e celular, dominar esse aplicativo etc. […], então as coisas serão diferentes. Não é à toa que os conteúdos populares sobre produtividade pessoal prometem desvendar o segredo que vai “destravar” suas realizações.
Fico simplesmente constrangido quando penso em um projeto como o da construção da catedral da Sagrada Família. Ele não faz sentido para a maior parte de nós. Antoni Gaudí, seu arquiteto, não apenas não o concluiu em vida, como era parte do seu plano que o que ele fizesse continuasse e tivesse valor para depois da sua morte. Sua construção se iniciou em 1882 e permanece em obras até hoje. São quase 150 anos de um projeto que não permite a mentalidade quando-eu-finalmente. Francesco Ragonesi, cardeal, considerou a obra de Gaudí “um dos maiores poemas cristãos em pedra”.
Imaginar como poderíamos ter a mesma postura de Gaudí está próximo do inconcebível para nós. Estamos ocupados demais em dominar cada aspecto das tarefas para garantir que não falharemos; sequer estamos dispostos a considerar o bem dos outros antes do nosso como resultado de nosso trabalho (cf. Filipenses 2.4).
Em certo sentido, a mentalidade quando-eu-finalmente esconde um profundo orgulho. O que você tem medo de perder ao fracassar?
Aqui vai uma semente para sua semana: Escolha dois projetos que estão acumulando pó na sua lista de coisas que você gostaria de fazer e pense se algum deles não está aí apenas para te distrair das coisas que você realmente deveria fazer.
🍂 HÁBITOS EM FASE BETA
Aqui estão três coisas que tenho testado para lidar com a gula de informações:
Ler notícias apenas uma vez por semana. Há muito tempo li em algum lugar que C. S. Lewis recomendava não ler muito jornal: “Se tiver algo importante, alguém te dirá”. Se essa citação é apócrifa ou não, Sertillanges recomenda o mesmo em A vida intelectual.
Desativar as notificações de podcast. Já são 15 anos ouvindo podcasts, acompanhando o nascimento e esquecimento dos programas no que, antes, chamávamos de podosfera. A essa altura, tenho 412 feeds ativos de podcast cadastrados em meu PocketCasts (jamais Spotify). Com as notificações desativadas, não passo o dia ignorando pushs, sem me distrair e sem ficar com a impressão de que estou perdendo algo. Ao final do mês, vejo o que saiu de interessante nas últimas semanas sem a pressão da novidade.
Desentulhar os feeds. Desativando ou cancelando inscrições: YouTube, Instagram, Podcasts. Um hábito que busco fazer na virada de cada semestre. Mais uma vez, quantas notificações você aprendeu a ignorar, mas que continuam te distraindo e te fazendo achar que está perdendo algo?
Abner Arrais