Frutificai #03: Para fazer mais nesse ano, você precisa do tipo certo de esperança
No centro da produtividade cristã deve encontrar-se o contentamento.
Já falta menos de um mês para o Carnaval. E um mês para a Quaresma. Das 52 semanas no ano, restam agora 48. Isso foi bem mais rápido do que eu esperava.
Essa é a hora para perceber que aquele plano de leitura que você furou apenas alguns poucos dias já se torna pesado demais para retomar, a matrícula para um curso que abriria uma porta profissional ficou cara demais para esse momento e o tempo para o levantamento bibliográfico do projeto de pesquisa é cada vez menor.
Um olhar para a finitude
Com 23 dias no ano, o tempo já parece menor do que eu queria. Em Quatro mil semanas, o jornalista Oliver Burkeman propõe que parte do nosso problema é finitude. A infelicidade do nosso fracasso, segundo ele, é, em essência, “sobre nossa limitação de tempo” (pos. 96).1 Para ele, essa também é parte da solução: uma consciência da nossa finitude, especialmente a morte, é o que nos permite chegar ao equilíbrio pessoal para gerir o tempo de forma adequada.
O livro de Burkeman é um bom testemunho da graça comum em nos mostrar muita sabedoria prática. Mas no centro de sua tese está também uma visão secular de esperança. Para ele, o objeto de nossa esperança não pode ser transcendente. Do contrário, o equilíbrio para gerenciar o tempo à luz da finitude não será possível.
É claro que isso está em absoluta oposição à visão cristã da finitude. Somos finitos? Sim!2 A vida acaba depois de nossa morte? Não. Ao contrário, como exorta o apóstolo Paulo: “Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens.” (1Coríntios 15.19, ARA).
Um olhar para a ressurreição
Eis aqui um problema mais profundo para a nossa gestão de tempo: se é real a minha intenção de fazer mais coisas e melhor para a glória de Deus, devo manter no horizonte ao mesmo tempo minha finitude e a ressurreição de Cristo.
De um lado, em Gênesis 3, vemos o resultado do pecado sobre o nosso trabalho: nosso sustento é impactado pela realidade do sofrimento. De outro, a realidade da ressurreição, sobre o que Geerhardus Vos fala bem melhor do que eu:
Geerhardus Vos, em O reino de Deus e a igreja, diz que depois da ressurreição de Cristo, “as forças do reino [...] estão em ação”, mas não apenas dentro das quatro paredes da igreja. Ele diz que o propósito do reino consiste em renovar o mundo inteiro, ele “tem como objetivo permear [...] totalmente a vida humana”. Com isso, ele não tem em vista nenhum tipo de tomada de controle teocrático pela igreja. Pelo contrário, ele diz que quando os cristãos fizerem do amor ao próximo e da glória de Deus as metas mais elevadas de sua ação, se observará nos campos da “ciência [...] arte [...] estado [...] [...] comércio e indústria” mais do que o estabelecimento de relações justas e corretas. As pessoas não progredirão à custa da outra, vivendo para sua própria glória. Em vez disso, elas prosperarão pela mútua dependência e pelo amor. E, quando os cristãos trabalharem sob “a influência controladora do princípio da glória divina”, e não da sua própria glória, “aí poderemos dizer verdadeiramente que o reino de Deus se manifestou”.3
Sim, é verdade que às vezes o tempo passa devagar. Mas o tempo passa rápido mais vezes do que passa devagar — e é nesse lado da balança onde repousa nossa ansiedade e sentimento de fracasso. Um sentido para a gestão do tempo que seja intrínseco à finitude, a visão secular de esperança, não é suficiente para vencermos o problema.
Em vez da esperança autorreferente, o evangelho nos liberta do peso de sermos os autores de nossa própria vida para abraçarmos a esperança teorreferente e encontrar contentamento no tempo determinado por Deus para todas as coisas e em seu poder e em sua graciosa providência, que é rica em sabedoria.
É assim que o projeto de pesquisa pode ser retomado, sua oportunidade de crescimento na carreira pode permanecer no horizonte e o seu plano de leitura bíblica ser recobrado: quando no centro de tudo o que você faz está a glória de Deus e as boas obras que ele preparou de antemão para que as praticássemos (Efésios 2.10). À luz da ressurreição, a finitude deixa de ser uma razão para o desespero ou negligência e passa a ser uma razão para encontrarmos contentamento.
A partir desta edição, incluo ao final de cada newsletter a seção “Você vai gostar de…”, com links interessantes para você descobrir. Nesta edição, incluo também uma thread de twitter sobre planos de leitura bíblica para ajudar você a se reorganizar neste final de mês.
Quero pedir duas coisas para você:
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Responda este email com o que você pensa ser o maior desafio para viver à luz da realidade da ressurreição de Cristo e a promessa de que ele fará novas todas as coisas.
Abner Arrais
🍃VOCÊ VAI GOSTAR DE…
🎙 Redimindo Finanças - Silvano & Sílvia de Oliveira (Projeto do Coração) https://bit.ly/frut03prcss
🔗 Como Reduzir as Distrações Digitais: conselhos de monges medievais (Lecionário / Jamie Kreiner) https://bit.ly/frut03lcrd
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🧵 O melhor plano de leitura bíblica e que você pode começar em qualquer época do ano (Twitter / Abner Arrais) https://bit.ly/frut03twlb
🌰 FRASE DA SEMANA
Sua vida [a do preguiçoso do livro de Provérbios] é caótica porque sua alma é caótica. Ele dá pouca importância a Deus, razão pela qual também dá pouca importância às coisas que honram e glorificam a Deus — coisas como trabalhar duro e fazer o bem às pessoas.
Tim Challies, Faça mais e melhor
Quatro mil semanas é um dos livros que mais gostei de ler nos últimos meses, e suas notas de rodapé são um pequeno baú de tesouro com referências a textos ainda mais interessantes. Se você tem interesse em saber mais a respeito dele, responda esse email e me ajude a divulgar o Frutificai para algum amigo que se beneficaria com nosso trabalho.
Essa é uma tese importante e com diversas implicações em Inteligência humilhada.
Citação em Tim Keller, Como integrar fé e trabalho (São Paulo: Vida Nova, 2014). Disponível em: https://amzn.to/3ZS79Wb.